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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Marcadores: conto
(Para Yara)
Hoje é quarta-feira, dia vinte e seis de dezembro, sete horas da manhã. Mexo-me pela cama. – Ah, como estou exausta. Ainda com os olhos fechados, sinto o frio que atinge o meu corpo sem perdão; corpo satisfeito pelo dia anterior. Frio, como odeio você. Mal começo a amanhecer, e tu já vens a me desfazer. Sim, está muito frio. Viro para lá, viro para cá. Chego ao ápice de minha exaustão matutina: assim não dá! Por um descuido, abro os olhos.
O telefone, às oito horas da manhã, toca. Não creio: trabalho. O ofício, com urgência, chama-me. Ou melhor: depois de um feriado acredito que quem me chama é a exaustão, mais uma vez. Corro para o banheiro, ligo o chuveiro, tomo um rápido banho. Indignada pela incapacidade de compreensão de meu chefe após um delicioso feriado nacional, abro o meu guardarroupa. Olho às roupas, olho à cama. Na cama está o pijama. Mas que vontade de dormir outra vez! Uma força superior levanta-me, e, assim, me visto: camiseta apertada, calça jeans desbotada, chinelo Kalvin Klein de dedo – presente gentilmente entregue à minha pessoa por mim mesma. E lá se foi toda a economia do mês...
Estressada, chego ao trabalho. Dou um bom-dia, por educação, a meu chefe. Ele, por sua vez, ri. Ri? Sim, ri. Olha-me de um jeito engraçado. Encabulado com os meus pés pelados, ele graceja: - Irreverentemente linda! (Pois, de fato, nunca me vira assim, tão à vontade, antes). Eis que depois de eu chegar, e ingenuamente querer ligar para pessoas queridas, junto do costume antigo de comentar o feriado natalino, é anunciado reunião. Ah, é o fim! E era mesmo. Uma, duas, três, quatro horas de reunião. Chego a ela: a exaustão. Novamente exausta, procuro não pensar. Não aguento mais. Assim, retiro-me do ambiente. Observo as pessoas falarem. Nunca havia tido essa experiência em toda a minha vida de advogada: calar-me, não pensar, e ver no que dá. Sinto-me a rir por dentro: todos parecem animais falando, defendendo, argumentando, colocando ideias, tirando. Vejam: eles só podem estar em busca do nada. É o fim dos tempos. Procuro lembrar-me do dia anterior: só alegria. Solto um riso em meio a uma pergunta de meu chefe, não ouvida por mim, é claro.
- Pela última vez: concorda ou não? – perguntou meu chefe irritado.
- O senhor está se referindo a quem, a mim ou ao dia de ontem? – pergunto em devaneio. Uma cara fechada e feia de meu chefe encerrou a reunião, depois dele jogar a caneta ao chão.
Que dia! Dia corrido, dia dispensável, nada solucionado. Prossigo em direção ao meu carro. Pego a mão no volante e sigo em retorno à minha casa. No caminho, deixei o pensamento rolar: pensamento livre. Liberdade às emoções, às idéias, ao cansaço, a tudo. A imaginação correu como uma pomba voa em desespero de um humano que se aproxima. O natal passou. Foi muito rápido. Durou um segundo, enquanto o dia de hoje pareceu não terminar. Nada, nada resolvido. Problemas! Dívidas! Questões familiares! Questões femininas! Questões trabalhistas! Ah!!! A cabeça não aguenta. Ela quer descanso: tudo tem limite. A cabeça vai explodir. Tensão, desespero, preocupação. Meu Deus, socorro! Olha o sinal... Ih... Passei no sinal vermelho. Não é possível. Ah! Se vier multa, passo de novo neste mesmo sinal vermelho. Mas que saco!
Já perto de casa, vejo a guarita. Ao chegar e me preparar para acionar a chave eletrônica, torço para que não haja carta, para que não haja dívida. Aciono a chave, o portão abre-se. Eu passo. Ufa, ninguém chamou. Fecho o portão, preparo-me para seguir à minha casa quando escuto de longe: Dra., há aqui uma correspondência à senhora! Pronto, acabou o meu dia. Ou melhor, se possível dizer: re-acabou o meu dia. Pego o envelope em minhas mãos. Assusto-me pela cor. Preto. O que será? Deixarei para depois, não deve ser coisa boa. Assim sendo, segui meu sofrido caminho. Cheguei a casa, olhei o envelope, fiz que não me importasse por ele; entretanto foi inútil. A curiosidade foi maior. Olhei para o espelho, abri o envelope... Eis que...
Ah, nem vou contar. Daí para frente, não há comentários. Cada foto, uma emoção; cada palavra Tua, uma lembrança de nós dois. Então rodei, dancei, chorei. Fiz aquela festa quando Te toquei. A cada detalhe, me apaixonei. Senti Teu cheiro, pois Tu colocaste Teu perfume em cada envelope. Ah, por muito te amei Como é possível, depois de um dia tão ruim, tudo mudar. Sou uma eterna apaixonada. Estou alucinadamente perdida por Você, por nós dois. O Teu perfume, a Tua imagem... Eu Te amo!
Dia vinte e seis de dezembro, e ainda era Natal...
Por: Rafael Daher às 10:50